sexta-feira, outubro 15, 2004

Das tristezas de um palhaço

Era uma vez um palhaço.
Era palhaço não por que queria.
Era palhaço não por que lhe convinha.
Era palhaço sem opção.
No rosto, uma festa de cores.
Vermelho e branco em um sorriso.
Preto e azul em uma lágrima.
O sorriso era maior que a lágrima.
Mas a expressão no rosto do palhaço era entristecedora.
Vestia uma bermuda laranja e uma camiseta vermelho escarlate Ferrari.
Usava uma gravata, frouxa ao redor do pescoço.
E cobrava um cachê barato pelo seu show com malabares, nos 3 minutos de sinal fechado, vermelho escarlate como sua camiseta Ferrari.
Era uma vez um palhaço.
O palhaço já teria usado aquela gravata em outros tempos?
Numa entrevista de emprego, quem sabe? No dia de seu casamento? Em um velório?
Herdara a gravata de alguém? Ou lhe era emprestada?
O palhaço brincava. Brincava de ser triste. Brincava de ser mágico. Brincava com a precisão. Com o experimento. Com o tempo.
O sinal vai abrir.
As pessoas, cansadas e irritadiças, já não ligam pra palhaços.
- É dinheiro o que ele quer, não é?
E abre o sinal. Lá vai o palhaço. Esperar novamente pelo vermelho escarlate de sua camiseta Ferrari.
No fim do dia, junto ao suor de seu corpo, escorre sua única lágrima.
Mancha de um dia comum.
Mais um dia de palhaçadas, na triste vida de um palhaço.


[deprimente. eu sei.]

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