segunda-feira, agosto 02, 2004

MEDÍOCRE MARIA

Era uma vez, como era em tantas outras vezes, uma moça chamada Maria.
Maria Eduarda, Cristina ou de Fátima? Não. Chamava-se Maria. Somente Maria.
Maria da Silva? Não sei. Desconheço seu sobrenome.
Uma moça, um nome.
Maria, de uma certa magia, tinha sonhos.
Anas, Paulas e Isadoras também os tinham.
Maria acreditava que seus sonhos eram especiais, afinal eram seus, e só isso bastava para que fossem os mais encantadores, fantásticos e perfeitos.
Mas seus sonhos eram simples: uma casa no campo onde se pudesse ficar do tamanho da paz, saúde, sucesso, prosperidade, amor. Colocar as crianças para dormir com um beijo na testa e acordar ao lado de quem se ama (após uma boa noite de sexo, afinal, Maria não era a Virgem Maria, tampouco santa). Reunir a família no Natal. Comemorar as bodas de prata com uma segunda lua de mel. Fazer bolinhos de chuva para os netos. Brincar de viver.
Maria tinha tristezas.
Alines, Danielas, Clarices e até Tarcilas também as tinham.
Tristezas, decepções, ressentimentos.
Os beijos tão sonhados e nunca vividos. A resposta negativa na entrevista de trabalho. Os planos destruídos de maneira cruel.
Maria foi-se embora.
Ela viveu em minha vida.
Em minha vida. Não minha vida.
Maria foi-se embora.
Levou consigo seus sonhos, suas tristezas e o calor de seus braços.
Sim. Eu a amei. Desconhecendo seu sobrenome. E a cada minuto, mais.
Me alimentei do brilho de seu olhar.
Me embriaguei com o perfume de seus cabelos.
Fui a cicatriz risonha e corrosiva.
Maria foi-se embora.
E agora, José?
Cadê o final feliz que estava aqui?
Ahn... Só um minuto.
.
.
.
Era o carteiro.
Conta do telefone. Fatura do cartão de crédito. Carta de Maria.

Pare de se torturar procurando. De nada adianta fingir. Eu sei que procuras. Te conheço muito bem. Tão certo quanto existe um "era uma vez", existirá o "e foi feliz para sempre". Trago meu final feliz comigo. Deixa-o. Confia. Eu o colocarei em seu devido lugar.
Maria

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