quarta-feira, junho 30, 2004

Recibo

Na sala de espera.
As conversas paralelas e hipocondríacas de alguns; o silêncio aterrador e constrangido dos outros.
As crianças fazem de tudo para chamar a atenção.
Seus pais as repreendem:
- Seja como aquele ali... Veja como ele é quietinho...
Expressões vazias. Olhares perdidos. Morte silenciosa.
A espera. Uma longa espera.
Não mais pela hora da consulta ou pelo médico, mas pelo momento em que se possa sentir um pouco de vida, uma pequena e vã esperança.
Good guy, now it's your turn.
A enfermeira chama.
O peso está bom. A pressão está baixa. E daí?
A espera continua.
O terror aumenta de forma gradual ante a indiferença.
Medo. Medo constante.
Fogo da coragem, my dear. Quem dera eu tivesse o fogo da coragem em mim.

O tempo não pára, não pára... Ele me diz.
E repete. Repete.
Até que o som de sua voz se esvai.
Me dá tua mão. Tua boca. Teu beijo.
O tempo não pára.
E todo tempo do mundo não seria o bastante.
Até breve.

Nenhum comentário: