quinta-feira, abril 29, 2004

Duplo Efeito

O maior temor de um escritor deve ser a tradução.
É tão difícil dar às palavras a árdua tarefa de expressar a dor, a admiração, a saudade ou o amor, porque elas não conseguem dimensionar a realidade e a nobreza de tais sentimentos.
Ainda mais difícil é expressar idéias e opiniões e se fazer entender através de palavras - as quais estamos acostumados e com as quais aprendemos a designar quase tudo que nossos sentidos alcançam - que, desculpem-me por tornar-me repetitiva, deve ser extremamente amedrontador pensar que, um dia, elas serão traduzidas.
Significados completamente diferentes.
Interpretações completamente novas.
Porém, penso eu, que a incompreensão, com ou sem tradução, está diretamente ligada ao comodismo.
Ouvir o que se quer ouvir.
Ver o que se quer ver.
Proteger-se de tal forma que não se possa ir além do que se planejou, ou além do que seja somente o suficiente, não importando o que realmente foi dito, visto ou vivido...
É tão mais fácil e tão mais conveniente... Porém, inconseqüente.
Dores são prá doer.
Doer, até que se tenha força suficiente para saber lidar com elas.
Se isso não for feito, nos tornaremos escravos de ressentimentos e mágoas.
É... Sentimentos estúpidos que só nos trazem o medo e a incompreensível sensação de perigo iminente.

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